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A importância da arte de brincar

Por: NYSSE ARRUDA


Natália Pais. Consultora do Serviço Educativo do Centro Cultural de Cascais, esta pedagoga com larga experiência profissional, pioneira no movimento da educação pela arte em Portugal quando trabalhou na Fundação Gulbenkian, continua a defender o direito de todas as crianças às brincadeiras próprias da idade.
"A educação deve estar inserida num contexto cultural e proporcionar a vivência de situações experimentais, a apropriação de saberes, a confrontação de opiniões e a plena realização do indivíduo." Esta frase está impressa num cartaz na sala de entrada do Serviços Educativos do Centro Cultural de Cascais e reflecte em pleno as linhas condutoras de todas as actividades lúdicas, artísticas e culturais dirigidas a crianças e jovens, bem como a adultos e formadores.

É neste contexto que a pedagoga Natália Pais, consultora convidada pela vereadora do Pelouro da Educação e Cultura da Câmara de Cascais - que já coordena o projecto Escola Criativa, dirigido a educadores de infância e professores do 1º Ciclo do Ensino Básico -, delineou a criação do Serviço Educativo do Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luis I, desde 2002.

Através de visitas guiadas às exposições, ateliers de expressão plástica, expressão dramática, filosofia, percussão e bateria, dança criativa e laboratório de animação, as crianças podem vivenciar a arte como forma educativa num espaço convidativo e diversificado. Já os adultos - pais, famílias, professores e animadores - também podem estar presentes em acções específicas como os ateliers de dança e de educação do olhar, e mesmo em sessões de pais e filhos e percursos lúdicos inseridos no programa integrado AconteSer, de actividades lúdicas, artísticas e culturais do Centro Cultural de Cascais.

"A nossa intervenção cria um diálogo entre cultura e educação, dirigido a crianças, famílias, público escolar e público em geral, alargando a natureza dos promotores de conhecimento e lugares de aprendizagem", explica Natália Pais ao DN gente.

Esta filosofia de trabalho é uma constante na sua carreira. No início dos anos 60, a convite dos seus professores universitários, participou na criação do Centro de Investigação Pedagógica, na Fundação Calouste Gulbenkian, uma experiência-piloto no cenário da educação portuguesa da época. "Era um momento de ebulição cultural no País, assinalado por uma revolução educacional de carácter subversivo", lembra a pedagoga, explicando que surgiram grandes transformações pedagógicas nos anos 60.

O Centro de Investigação Pedagógica, que actuou até 1979, organizou a primeira biblioteca especializada em Psicopedagogia e deu início às primeiras experiências de inovação pedagógica, a nível de ensino primário, com grupos de professores e associações culturais.

A formação de monitores de educação artística infantil teve prioridade nos apoios da Fundação às instituições, especialmente a de monitores de iniciação musical, pelas mãos de Madalena Perdigão. "Com a defesa da Carta dos Direitos das Crianças, revista pela ONU em 1989, surgiram instituições com o objectivo de defender o Direito de Brincar e abriu-se uma nova dimensão educativa de cariz cultural, a reconhecer o valor universal das linguagens lúdicas", reconta a pedagoga citando João dos Santos, que dizia que o "segredo do homem é a própria infância". Em 1984, nasce então no ACARTE, o Centro Artístico Infantil, onde por quase duas décadas, Natália Pais foi a responsável pela atribuição de subsídios às iniciativas culturais e projectos de intervenção artístico-pedagógica promovidos por instituições no âmbito da educação não formal.

"Tenho uma memória muito grata de todo o trabalho desenvolvido no Centro Artístico Infantil e até hoje continuo a encontrar em todos os sítios referências ao trabalho de Educação pela Arte", sublinha Natália Pais.